Há uma beleza intimista naqueles poemas que se iluminam na confissão do desamparo. Lucia Fonseca descreve a falta quase como uma presença: um outro, um duplo ou mesmo um anjo nadador. A poeta reconhece a brevidade da condição humana, ciente de que em algum momento tudo se quedou em silêncio. Os versos tentam capturar um instante ceifado e se debruçam sobre álbuns de fotografias na tentativa de fisgar aquilo que foi sem ter sido, lugares que desapareceram ou mesmo vidas interrompidas a contragosto. Os pais, o irmão, o marido, a maluquinha do bairro, até a própria infância… Ao tatear o imponderável, a escrita esbarra naquilo que escapa ao controle e compreende que, às vezes, fechar as pálpebras sobre a ausência pode ser um modo vigoroso de despertar a poesia. Este livro não hesita na criação de imagens que brilham por sua solidão radical: O Natal ficou partido ao meio/ como uma lua quebrada. Também existe um apelo corajoso para que o encontro sirva de acalanto: Sejas tu também meu rio escuro/ e deixa-me habitar as tuas sombras./ Abre-me os braços como a entrada de uma gruta. O humor aparece de forma contundente em inesperados poemas, sobretudo a partir da quarta parte, “Retratos”. O poema intitulado “Proust e Fernando Pessoa na Estrada de Ferro Sorocabana” revela, em sua abrangência, uma fonte inesgotável de criatividade. Todos os outros silêncios não evita retomar o passado mais remoto – até o próprio Big Bang – para fazer a fragilidade do tempo ressurgir enquanto força, assim como a vida entrevista nos clarões. Marca: Não Informado