Não, Tia Amélia não era minha tia. Este era o nome de guerra de uma extraordinária pianista e mulher que, ao se reinventar para uma segunda carreira artística com mais de 60 anos, aumentava a idade para parecer mais velha! Como se precisasse disso para conquistar a televisão, o rádio, a imprensa e o público com seu assombroso piano. Quem mais seria capaz de fazer dos choros, valsas e baiões um estouro nos anos 1950 e 60, em plena época da bossa nova e do rock ‘n’ roll? Se Tia Amélia não era minha tia, poderia ter sido. Por um absurdo acaso, ela foi inquilina de minha tia no Flamengo, no Rio, e eu, aos dez anos, via-a ensaiar todos os dias no piano do apartamento. As paredes tremiam diante do seu punch ao teclado. Na verdade, Amélia Brandão era a tia de todos nós, que amávamos a música popular brasileira. E, também não, Jeanne de Castro não é minha prima ou sobrinha. Mas podia ser minha irmãzinha, no entusiasmo e euforia com que mergulha no passado e recria não só a vida de sua biografada, mas todo o universo que a cercava.