Na consciência de sua fraqueza, o homem do vulgo não acreditava em outro destino para si senão manter, entre os assaltos das circunstâncias, pelo tempo mais longo possível, uma existência precária; adquirir para viver era como que sua única preocupação. Se os fenômenos ao seu redor o faziam crer em potências invisíveis das quais ele dependia, eram como seres mesquinhos e invejosos de quem devia esperar pouco de bom e muito de mau. Os heróis faziam das coisas e do destino humano ideias totalmente distintas. Para esses homens de elite ou de raça, que Descartes e depois Leibniz chamarão os “generosos”, cada um tem uma alma, cujo caráter é ser simpática a todas as outras, que existe nelas tanto ou mais quanto nele próprio, e que assim é o que se poderia chamar de uma simplicidade complexa ou uma simplicidade múltipla. O que ele encontra em si, cada um desses personagens o reconhece de bom grado nos outros. O generoso, segundo Descartes e Leibniz, tem consciência de portar em si uma força pela qual é senhor de si mesmo, que constitui sua dignidade e constitui igualmente a dignidade de todos os outros. Bem mais, ele se dispõe a reconhecer, em todos os seres, de qualquer ordem que sejam, algo de análogo.