O Aparecimento De Talagarça De Humberto Pio É, Desde O Título, Um Acontecimento Que Justifica Esse Esforço Em Favor Da Poética Da Linguagem. Por Um Instante, Nossa Mente Revolve O Idioma Que Aprendemos A Imitar Desde Muito Cedo, Faz Aproximações, Analogias, Suposições, Hipóteses E O Título Permanece Ali Como Um Vocábulo Sem Significado Aparente. Essa Sensação Entre A Incompreensão E A Ignorância Serve Como Alerta: A Língua Vai Muito Além Desse Conjunto De Palavras Corriqueiras Que Usamos No Modo Automático, Aliás, Ela Não Se Resume À Tarefa De Comunicar O Trivial Ou O Irrelevante. (...) Organizar Ideias, Memórias, Sensações E Experiências Sem Passar Necessariamente Pelas Orações E Estruturas Sintáticas É Um Dos Muitos Desafios Que Identificamos Em Talagarça, Uma Organização Que Exige Um Controle Da Linguagem Que Explora As Muitas Possibilidades Do Uso Da Palavra, Pois É No Uso Dela (E De Seus Componentes, Os Fonemas, As Tipologias, Sua Disposição Na Página) Que Reside Sua Materialidade. (...) Pela Alegoria De Talagarça Reaproximamos O Corpo E A Experiência Urbana, Algo Que A Própria Língua Já Havia Há Muito Conectado, Carne E Cidade, Dois Tecidos, Dois Suportes Sobre Os Quais Construímos A História. Bordar, Bordamos Todos, Já Cardar Toda Essa Lã Grosseira E Emaranhada Que É A Realidade, Bem, Quem Sabe Este Seja Um Encargo Um Tanto Mais Restrito, Não Exclusivo Dos Poetas, Diga-Se, Mas Seguramente Eles Estão Entre Os Que Nos Dão A Possibilidade De Encontrar Um Fio Que Possa Ser Seguido. - Paulo Ferraz