O conhecimento do mal não é puramente especulativo. Sofrimento ou pecado, o mal não poderia ser objeto de ciência objetiva e desinteressada. O homem, todo espírito, coração e corpo, encontra e sofre o mal, o homem enquanto homem e não somente o homem enquanto razão. Como a angústia é esse sentimento total do mal, proporemos, num primeiro capítulo, uma fenomenologia ou simplesmente uma descrição dessa angústia, insistindo nessas extremidades singulares da infelicidade ou do crime nas quais o mal parece ter um destino. Várias atitudes são assim possíveis: enganar a angústia e transfigurá-la ou acalmá-la imaginariamente através do mito e da arte, cujas funções se confundem, visto que são irmãos gêmeos, e esse questionamento da mitologia será o tema do nosso segundo capítulo; ou então filosofar contra a angústia, tentar vencê-la pela razão, ou seja, convencê-la de ilusão de tanta sabedoria, e estaremos aqui no cerne e no coração da maior dificuldade do nosso propósito num terceiro capítulo no qual nos perguntaremos se a filosofia é capaz de ser a grande vitoriosa na prova que lhe impõe o encontro com o problema do mal. O duplo fracasso da mitologia e de uma filosofia racional de um extremo ao outro não deveria significar a morte da esperança: basta filosofar na angústia de levar ao ponto mais distante possível a sua insustentável lógica, buscar na exasperação dessa angústia a tentativa de um itinerário em direção a Deus, Deus sendo doravante cuidadosamente diferenciado de um mito de beleza que revestiria o ser universal com harmonia estética, assim como com um princípio lógico que engloba, explica e justifica a totalidade das existências. O nosso quarto capítulo será o breve esboço de uma metafísica que, uma vez afastados os ídolos poéticos e lógicos, reuniria a dialética da angústia existencial e a mística do argumento ontológico, garantindo, dessa maneira, a passagem da filosofia para uma teologia. Um quinto e último capítulo tentará retomar as atitudes concretas do homem diante do mal, descobrir que a angústia contém não somente uma metafísica, mas também uma ética, que não se confunde com um moralismo formal, mas vai ao encontro de uma política e de uma religião.