O mundo indica cada dia de forma mais evidente não suportar mais a dinâmica de reprodução do capital. Além do esgotamento dos recursos naturais, que nos conduz a uma hecatombe climática com o potencial de produzir uma nova onda de extinções em massa, temos o aprofundamento dos conflitos produzidos por uma insustentável desigualdade socioeconômica, desaguando numa situação que nos lembra a máxima marxiana "a história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa", em uma alusão macabra às grandes guerras imperialistas do século XX e aos desdobramentos da crise do capitalismo tardio. Diante de tal quadro, Garrido sugere que a resposta está na tradição socialista de inspiração marxista, que vê na revolução proletária a chave para a construção de uma nova sociedade. O autor destaca a crise na perspectiva revolucionária provocada pelo fim da União Soviética, com a esquerda assumindo o papel de defesa dos avanços progressistas no lugar da crítica radical ao modo de produção capitalista. O peso do escrutínio dos arquivos de Moscou caiu sobre os comunistas do mundo todo, provocando uma crise de horizonte político e uma capitulação às teses do “fim da história", o que conduziu à desmobilização da classe trabalhadora e abriu espaço para o recrudescimento de setores reacionários que de tempos em tempos cooptam a indignação daqueles desiludidos com a democracia burguesa. Esta leitura é obrigatória para a construção de alternativas a um marxismo domesticado por mitos envolvendo o "fim da era das revoluções". Garrido joga luz sobre a experiência chinesa contrapondo-a a concepções marxistas filhas da desilusão com a União Soviética. Discute tanto as idealizações do socialismo que se opõem ao socialismo real, quanto a necessidade da construção desse socialismo real, que é necessariamente contraditório e imperfeito, pois, como diria Lênin, nasce dos escombros do capitalismo. O fetiche da pureza e a crise do marxismo ocidental instiga ao debate sobre a superação do capitalismo e a construção da via revolucionária, sem purismos, idealizações, ou conclusões precipitadas. Traz mais questionamentos do que respostas, sem os quais, porém, é impossível superar a sociedade do capital que está nos levando para um conjunto perigoso de contradições e limites, pois presos a estereótipos e interpretações dogmáticas, corremos o risco de capitular antes mesmo da luta. Humberto Matos é militante do Coletivo Soberana, professor de história, agitador e propagandista do comunismo no YouTube.
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