Em seu livro de estreia – valendo-se de um lirismo contemplativo que escapa à lógica cartesiana e desloca as palavras rumo ao inusitado – Juliana Martins nos convida a olhar para dentro, em meio à sociedade do espetáculo, onde “a rua vira palco e o diretor [está] ausente”; a fechar os olhos para descobrir paisagens, ou pegar retinas emprestadas para ser ao mesmo tempo “a criança refugiada em um bote e também o oceano”. Suas palavras nos desafiam a acender vaga-lumes, observar as estrelas das noites sem luar e entender que “somos mais aparentados aos sapos do que aos anjos do paraíso”. Assim é O dia a dia do jardineiro bipolar: uma colcha de poemas subatômicos, costurados com uma delicadeza que, longe de ser frágil, possui a beleza e a dureza da pedra vulcânica. [Aline Caixeta]