O que ocorre quando a escrita se dispõe a captar o próprio processo de transformação? Seria o verbo capaz de conferir um corpo ao transitório? . Os textos reunidos por Álvaro Botelho neste livro acolhem o desafio de materializar a mudança. Convidam o leitor a testemunhar uma diáspora lírica . Nesse itinerário, concreto e abstrato confundem-se em um esforço de tradução da convergência entre Eu e Outro, como bem ilustra o poema que abre a coletânea: Li os teus - E pari desejos - Li os meus - Ainda não nascidos - Fui mãe de rios - E palavras- Te limpei - Com meu Sêmen - Te fiz meu Éden - Comi tua carne Renasci em ti - Novo como poemas - Novo como poentes. Nos poemas que compõem Mudança, está posto o desafio de cegar guilhotinas afiadas e ser em cada novo suspiro o próprio céu. Nesse espaço arriscado, de luta e persistência, o poeta se move entre a aspiração de perenidade e a constatação da finitude, dos corpos, dos laços e dos afetos. Gigante em pequeno ninho, sua voz se ergue, nem carne nem rio, tecendo fios de correnteza entre o corpo e a casa: sofrendo a mudança no mesmo compasso em que sobre ela reflete. Que o leitor, assim como eu, sinta borboletas a nascer nos canteiros do coração ao colocar-se diante dos textos desta coletânea! José Aldo Ribeiro da Silva. Professor do Instituto Federal do Sertão Pernambucano e Doutor em Literatura e Interculturalidade pela Universidade Estadual da Paraíba