D: Bem, Mikhail Mikhailovich, eu, pode-se dizer, escrevi a sua digamos, Odisseia. É muito bom que eu a tenha orientado para ser uma narração biográfica. O senhor moveu-se também em outras direções com dispersões histórico-literárias, estéticas e filosóficas, por isso. Além de todas as lembranças, no mais, muito numerosas... B: Mas que lembranças! D: ... eu simplesmente gravei um belíssimo retrato de Mikhail Mikhailovich Bakhtin, que gosto muito. A única coisa é que da última vez saiu meio errado e é preciso cortar alguma coisa. B: Culpa minha, porque... não sei porque... No dia anterior eu estava de alguma forma muito cansado. Bem, eu literalmente esqueci até as palavras mais corriqueiras... D: E eu escutei muito mal. Bem, uma conversa, a quinta não saiu muito bem, mas de todo o resto foi interessante e válido. Bem, mas o senhor não tem a intenção de escrever as suas memórias? Recebíamos aqui no Brasil, de vez em quando, notícias e pequenos pedaços dessas entrevistas que Bakhtin concedera a Duvakin em 1973, dois anos antes de sua morte. Agora já estamos lançando a terceira edição desse livro formidável e imprescindível para a compreensão desse pensador que vem sendo valorado como talvez o maior pensador do século XX. O presente livro contém essas entrevistas. Na Apresentação, Ponzio assim se refere a esse material: "As conversas entre M. M. Bakhtin e V. D. Duvakin aconteceram e foram gravadas em 1973. Bakhtin não escrevia memórias, nem dava entrevistas, e restam, por isso, poucos documentos diretos ligados à sua biografia. Por isso as gravações de suas conversas com Duvakin são um documento único e contém preciosos testemunhos do filósofo russo sobre o seu tempo e sobre si mesmo. Esses representam não somente uma imprescindível contribuição à compreensão de sua obra e sua reflexão no âmbito dos muitos setores que essa, indisciplinadamente mais que interdisciplinariamente, atravessa - a literatura, a crítica literária, a estética, a psicologia, a semiótica, a linguística - mas oferecem a possibilidade, através do direto testemunho, de uma visão que olha de perto os eventos históricos, políticos e culturais que conotam, no bem e no mal, a herança que o século XX deixou". Que a sede que se tem no Brasil a respeito do trabalho que Bakhtin desenvolveu possa ser um pouco mais saciada com a leitura desse livro. Oxalá ele contribua para que possamos conhecer um dos pensadores mais instigantes do século XX, e que é uma grande luz para nossos passos tropegos nesse tempo presente. Valdemir Miotello
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