Meu corpo é meu território: Mulheres em defesa do bem viver na cidade

Se escrever é fundamental para não apagar nossa memória e existência, empreender uma escrita coletiva passa a ser um gesto incrivelmente potente de afirmar formas outras de vida, de enunciar corpos outros que se fundem a territórios e, nessa fusão, mundos e gestos são criados para dizer que a vida pode mais. É assim que me chega o presente livro de Maria da Graça Costa e da Coletiva Militância Investigativa (Militiva). Movimentando-se pelos paradoxos que atravessam a região oeste da cidade do Rio de Janeiro, Maria e a Coletiva Militiva compõem uma cartografia impressionante da vida de mulheres que, dedicadas à agroecologia urbana e conectadas com a ancestralidade que habita suas peles, nos convocam a reflexões políticas sobre a produção e consumo de alimentos, sobre estabelecimentos de laços comunitários de bem viver e de como se inserem em variadas dimensões do campo político (institucionais ou não). Toda essa trama é tecida por meio de uma interlocução primorosa com saberes ancestrais e contracoloniais. Também se presentifica no texto uma rica discussão sobre distintas leituras do feminismo, pondo em diálogo os Ecofeminismos e os feminismos periféricos e territorializados com o tema da agroecologia. Por fim, vale destacar que toda essa produção cartográfica se fez por estratégias em que as mulheres participantes se implicaram de modo a gerar um conhecimento territorializado e em profundo diálogo com os reveses do tempo presente e que desafiam sobremaneira o seu cotidiano. Jáder Ferreira Leite