Com verve e dotes de cronista, DJ Dolores conduz o leitor pelos recantos inesperados de lugares tão diferentes quanto Recife e Abu Dhabi, na companhia de motoristas de táxi, figuras misteriosas da vida noturna de toda parte e gente ilustre como Gonzagão, Naná Vasconcelos, Gilberto Gil, Chico Buarque e Lia de Itamaracá, sempre num ritmo que às vezes tem o gingado do frevo, mas também o compasso lento das memórias mais afetivas, como se ele fosse o Antônio Maria do Manguebeat, à maneira do cronista e compositor recifense, a cena musical que viveu ao lado de companheiros como Chico Science. Trechos: “Em paralelo, o MangueBeat despontava, e grande parte da turma estava distribuída em dois quarteirões vizinhos na mesma rua. Eu e Hilton fazíamos videoclipes, cartazes, capas de disco, direção de show, cenário e o que mais viesse para aquelas bandas emergentes. Alugamos uma laje coberta que tinha uma varanda e era muito frequentada por todo mundo da cena. Foi lá que Chico, já Science, deu sua primeira entrevista para um canal local. O escritório precisava de um nome e Claudinho sugeriu Dolores & Morales. Ele era um craque em jogos de palavras e o sentido autêntico daquele nome era Dores & Morais, que traduzido para o espanhol soava como nomes próprios.” “Agora, você tem duas refeições à sua frente, mas está só. Não chore sobre a comida, seria um desrespeito à sua companhia imaginária. Levante-se e vá ao banheiro. Lá, chore o que tem que chorar. Demorará dias, semanas, meses, talvez anos a depender do tamanho da sua dor. Em algum momento, tudo cessará e você perceberá que aprendeu a preparar e servir um jantar para dois.”
Marca: Não Informado