Ao observarmos as diversas questões que permeiam as cidades brasileiras, fica evidente a existência de injustiças que afetam as relações entre o Estado e os cidadãos. A pandemia destacou ainda mais esses contextos, revelando situações em que o Estado não cumpre adequadamente seu papel de garantir direitos mínimos para todos. A falta de justiça social, resultante do descumprimento dos direitos constitucionais, é algo preocupante. No entanto, ao examinarmos essa realidade, surgem questões menos óbvias: como essas injustiças afetam a legitimidade do poder político? Existe uma conexão entre essas injustiças e o exercício do poder pelo Estado? Neste trabalho, argumentamos que sim e buscamos descrever as formas pelas quais essa falta de legitimidade se manifesta, levando em consideração o "liberalismo do medo" de Shklar e a teoria da vulnerabilidade de Fineman. Nosso objetivo é apresentar argumentos que sustentem a afirmação de que o Estado brasileiro não é legítimo no aspecto da autoridade política. Abordaremos a perspectiva das pessoas em situação de vulnerabilidade social, que enfrentam o medo e a crueldade de forma mais intensa, e defendemos que elas deveriam ser as principais beneficiárias das políticas públicas. No entanto, constataremos que o Estado, ao não reduzir as injustiças sociais e ao utilizar padrões normativos que negam direitos e perpetuam exclusões, contribui para a criação e reprodução de relações marcadas pela crueldade política.