Há um cronista à solta pelas ruas do Rio — ou melhor, alguém que observa o mundo como quem escuta uma música em fade out: atento aos tons que os outros não ouvem mais. Bernardo de Sá Earp compõe em Ironia contida um retrato sensível e cáustico da vida cotidiana, desses dias que passam e se repetem, mas às vezes, de súbito, revelam um detalhe desajustado, uma nota fora do compasso, uma fresta de absurdo — e é por essa fresta que ele escreve. Neste livro, a ironia não é escudo nem gargalhada, mas um gesto de desalinho contra o banal. Minha amante é minha guitarra, minha guitarra que me faz companhia quando estou só, ou distante da mulher que amo. Minha guitarra me faz companhia nas noites chuvosas que passo só. A arte da música é muito parecida com a arte de amar. Eu e outro alguém. Uma relação de carinho, de cuidado, de escuta, de atenção.