Uma casa. Uma família. Várias vozes. Em Inventário das Palavras, Alice Casimiro Lopes organiza um curioso testamento narrativo: capítulos que funcionam como peças de um quebra-cabeça maior, construindo aos poucos o retrato fragmentado de uma linhagem em ruínassuas falas cruzadas, seus silêncios herdados, suas disputas por sentido.
Nada aqui é :os personagens transitam entre núcleos interligados, ocupam os mesmos cômodos, repetem certos gestos, contradizem versões. O resultado é um romance em fragmentos, em que cada parte reabre as caixas de um passado familiar e literário que insiste em permanecer aberto.
Com domínio técnico e arquitetônico da linguagem, Alice manipula narradores múltiplos e tempos desalinhados para transformar as palavras em rastros de pertencimento e perda. Como num inventário oficial, os textos aqui catalogam restos: do que foi vivido, do que ficou por dizer, do que continua a reverberar.
O impacto está menos no que é dito do que na forma como ressoa no leitor, na linguagem, na memória.