A infância é um território delicado, e poucos retornam a ele ilesos. Inocêncio, o protagonista deste romance, carrega um nome que é, ao mesmo tempo, sentença e dúvida. Na tarde em que o irmão caiu da quaresmeira do quintal, uma vida se perdeu e outra passou a ser assombrada por um silêncio irrespondível. Apenas Céu, a empregada de nome premonitório, testemunhou a cena. E sua versão dos fatos, como tudo o que é essencial, logo se perdeu. Acompanhamos Inocêncio pela trilha tortuosa de suas culpas: o afastamento dos pais, os anos no internato, a vergonha calada diante dos próprios fantasmas, o peso insuportável de um sobrenome que se confunde com crimes abafados em fazendas no Mato Grosso. Na vastidão da floresta, entre seringueiros e indígenas, ele buscará um alívio impossível – ou, quem sabe, apenas o direito de contar a própria história antes que ela se dissolva no esquecimento. Ricardo Trinca conduz o leitor por uma narrativa vibrante, onde memória e delírio se entrelaçam como os ramos frágeis da árvore fatídica. “Inocência” é uma viagem profunda pelos labirintos da culpa, do luto e da difícil arte de sobreviver à própria história. Um romance que, ao final, nos faz perguntar: é possível algum dia estar livre daquilo que fizemos – ou deixamos de fazer? Marca: Não Informado