Glória Nas Alturas

O sol está a pino, e o calor abrasador. Vindo do Leste, um ser divino se aproxima lentamente da cidade, montado em um burrico para cumprir uma antiga profecia. Ao longo do caminho, uma multidão estende as suas capas pela estrada, e alguns espalham ramagens que haviam cortado nos campos. As crianças, surgidas de toda parte, acompanham aos gritos o inusitado cortejo. Alguns tomam ramos de palmeiras e saem ao seu encontro, enquanto outros, a cantar e a dançar, acenam freneticamente em sinal de boas-vindas. Tomadas por um pressentimento sombrio, as autoridades locais não enxergam o evento com bons olhos, e tramam entre si sobre como dar um fim à loucura que emana das ruas. Perto do portão oriental, a comoção aumenta. Passo a passo, a divindade abre caminho entre a turba, dirigindo-se ao templo edificado no cume de um monte, que reflete vividamente a luz solar em seus portões. Dentro da cidade a multidão, alvoroçada, indaga: Quem é este, que vem a nós de maneira tão audaciosa? Algo muito importante está ocorrendo, mas somente o mestre conhece o significado desse drama que repercute até às fronteiras do cosmo. Até hoje o povo celebra este momento glorioso, sem ter ideia do seu real significado. Trata-se de algo que vai além da imaginação daqueles que leem literalmente as escrituras: a celebração de um ciclo que se repetirá anualmente até o final de todas as Eras.