*** Sem desprezar a nobreza do encontro dos pares Kátia Nascimento e André Soltau, Fio do silêncio promove o apagamento da assinatura tradicional esperada para um livro que reúne contos de dois escritores, num revés à contemporaneidade, que explicitamente tem convocado o retorno do autor e o leitor da ficção contemporânea sabe disso, pois acompanha o escritor vivo nas redes sociais, nos encontros literários e nas oficinas de criação. Em seu lugar, a presença de signos não verbais supostamente [também] o mar e o cavalo marinho sela a sintonia do duo de artistas que deita sobre o vazio luminoso da página a expressão estetizada da linguagem na representação imaginária de fragmentos pinçados da realidade. Em primeiro plano reside o discurso que antes sente para somente depois significar. Não aprendi a ser livre, mas a despertar no outro a liberdade que não tenho. [do conto O desenho que saiu do papel]. Numa leitura circundada pela personagem Solidão, que renasce fantasmagórica em várias das narrativas, Fio do silêncio comporta histórias breves em que prevalece a sensação de um tempo passado, um tempo outro, na maioria das vezes distante, ou aquele que insiste em passar lento na memória e nas localidades pouco conectadas com a ligeireza corrente nos centros urbanos atuais. São, na maioria, narrativas que reativam singularidades de um passado nada automatizado e inumano, embora comumente negligenciado pelo olhar. Talvez não atinja o domínio das vertigens que vão e vêm lembrando que as coisas ainda estão fora do eixo. [do conto A casa de reza]. Camila Morgana Lourenço Doutora em Teoria da Literatura (UFSC), é autora da biografia Retrato Literário: Urda Alice Klueger e o fazer literário e tem publicado experimentos ficcionais em antologias resultantes de concursos. ***