Li Este Livro De Paloma Franca Amorim Com A Mesma Surpresa Que Tive Ao Conhecer As Obras De Estreia De Marcelo Mirisola E Ferréz Na Virada Dos Anos 1990 Pros 2000. Aquela Certeza De Estar Diante De Um Novo Veio, De Uma Nascente Que Marcará, Como Esses Dois Autores Fizeram, Cada Um A Seu Modo, A Paisagem Literária Dos Anos Seguintes. Cito Dois Homens Por Um Acaso Da História Recente Da Literatura Brasileira, Mas É Inevitável, Quando Lemos Paloma, Lembrar De Outras Mulheres Escritoras. Na Apresentação E No Prefácio Do Livro, Clarice Lispector É Mencionada Com Razão. Lembrei Também, Ao Escrever Essa Orelha, Da Jovem Raquel De Queiroz, Em Sua Mistura De Seca E De Melancolia, E De Marilene Felinto, Com Sua Prosa Tão Pessoal E Tão Lentamente Dolorida. Cito Tanta Gente Não Por Uma Questão De Filiação, Mas Para Tentar Dar Um Parâmetro Do Evento Que É Esse Livro. Aparentemente, É Uma Reunião De Crônicas, Mas Cada Crônica Desse Livro É, Antes, Também Um Conto, E O Conjunto De Contos Acaba Formando Um Romance. Não Por Acaso, Me Parece, Paloma, Ao Juntar Esses Textos Tão Coerentemente, Excluiu A Data De Publicação, Em Jornal, Fazendo-Os Renascer Como Um Conjunto. Há Um Eu, Personagem Principal Dessa Enchente, Que Alcança Belém, São Paulo, Buenos Aires E Aveiro, Que Atravessa Carnavais E Estradas Em Viagens De Ônibus E Caminhares Sobre Calçadas E Pernas Tortas, Que Chega Ao Rio De Janeiro, À Patagônia E Aonde Mais A Imaginação Da Autora Leva. Um Eu Que É Narrado Não Na Lógica Da Autoficção, Sensação Dos Últimos Tempos, Mas No Da Prospecção Simbólica, Que É Pessoal, É Familiar, É Comunitária. Uma Voz Que É Negra, É Indígena, É Urbana E, Também, De Classe Média. Sim, Tudo Isso Está Aqui, Lindamente Aqui, Tristemente Aqui.
Ean: 9786559660032