Da lomba do Pinheiro, Rogério observa Porto Alegre. Em sua cartografia, traçada pelas linhas de ônibus, o jovem da favela não apenas descobre a cidade em que vive, mas também a reinventa e é reinventado por ela. Que cidade um jovem negro de periferia pode criar? Em suas jornadas, Rogério encontra as linhas invisíveis e, ao mesmo tempo, evidentes que separam sua vivência da cidade das experiências dos moradores brancos dos bairros abastados. Contudo, ele também conhece outras cidades dentro da sua, ainda mais severas para os que as habitam, em que a vulnerabilidade extrema e a violência coexistem com a solidariedade e a luta pela sobrevivência. A partir da universidade, Rogério vivencia todas essas cidades em uma só, com suas contradições e desigualdades, assim como as do espaço que agora ocupa como estudante de Psicologia. Jesse Cardoso, em Era uma vez Rogério, experimenta uma forma de narrar e produzir conhecimento que desloca a ficção, a escrita autobiográfica e a escrita acadêmica, ao integrar as três para contar as histórias de seus personagens, que são tanto figuras do seu cotidiano quanto conceitos, teorias e autores da Psicologia e outras ciências. Todas essas cidades e histórias nos são apresentadas no modo de narrar próprio de quem habita as zonas fronteiriças entre esses mundos. Este é o convite para quem for embarcar nesta leitura: acompanhar as muitas viagens pelo “busão-biblioteca”, que transporta o jovem Rogério em seus trajetos pela cidade e pelo pensamento. Celvio Derbi Casal Bibliotecário, mestre e doutorando em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.