Megg desagua das nuvens, não com água benta, ao contrário, com o correr sagrado da água Banto; corre pelas ruas de Curitiba como o Nilo; purifica os corpos que o higienismo branco cisgênero taxa de sujos; destrói as construções daqueles que nos fecham as portas de dia para abrirem as pernas para nós durante as noites. Fluida, feroz e certeira, entre garoa e tormenta, as pesquisas da professora, doutora, artista, travesti, negra, militante, refrescam nossa memória de que o céu sempre transiciona, que o sol não se põe igualmente para todas, que nem todo mundo pode se abrigar da chuva e nem toda enchente é destrutiva. Há de se inundar de Megg Rayara Gomes de Oliveira. Seu alagamento gera espelhos d’água, nos quais, nós, que sempre fomos vampiras, podemos nos ver finalmente refletidas. As muitas nós, Vitórias, Xicas, Joanes, Yayas, Rosalinas, Marys, Frances, Gildas, Sulkas, Palomas, Lumas, Marshas, Sylvias, Priscilas, Marias, Luas. As muitas nós, de muitos nomes que pingamos pelo mundo, as Travestis, as Hijiras, as Wakashus, as Dois-Espíritos, as Berdaches. O dilúvio da professora Megg devolve às nossas o direito de termos uma imagem, uma história, uma conexão (Lua Lamberti de Abreu).
Marca: DEVIRES EDITORA **