Último volume publicado em vida pelo escritor laureado com o prêmio Camões, Em alguma parte alguma foi eleito Livro do ano pelo Jabuti em 2010. Um dos poetas mais admirados do século XX, o autor de Poema sujo deixou sua marca na literatura brasileira com versos inquietantes e comoventes, regidos pela liberdade de pensamento e por uma renovada surpresa com as coisas do mundo: seu corpo, a paisagem ao redor e a força da linguagem. Num amálgama que funde passado, presente e futuro, Gullar evoca as lembranças de São Luís do Maranhão, observa a vista da janela de seu apartamento em Copacabana e medita sobre o brilho de galáxias distantes e a iminência da morte. Sua poesia, como ele costumava dizer em entrevistas, nasce do espanto de alguma fagulha que, embora real, surge como uma evidência do inesperado, do improvável, do impossível. Publicado originalmente em 2010, o extraordinário Em alguma parte alguma é uma celebração à vida e é também uma reflexão afiada da finitude. Se os versos descrevem minuciosamente as cores e o cheiro das bananas na fruteira, eles atestam, ao mesmo tempo, a implacável chegada do bolor. Nas palavras de Antonio Carlos Secchin, esse olhar se lança tanto microscopicamente à textura espessa das frutas condenadas ao apodrecimento quanto telescopicamente à solidão esquiva e silenciosa do cosmo.