Os Contos Eróticos do Antigo Testamento nasceram quase por acaso, quando a autora pesquisava material para um romance que tinha em mãos e foi consultar na Bíblia as crônicas antigas, de tradição oral, com base nos mitos e lendas da Mesopotâmia, como o Dilúvio provocado pela subida das águas dos rios Tigre e Eufrates e a destruição de Ur.
Releu assim os livros do Antigo Testamento de fio a pavio, não com a inocência maravilhada da juventude, mas com a curiosidade do estudioso e um distanciamento de mais de meio século de existência, e procurou uma linguagem poética e simbólica para o seu texto sem cair na vulgaridade, e muito menos na pornografia, mas mantendo um interessante componente erótico.
Resultou então numa crônica histórica da Antiguidade, ficcionada, cujo fio condutor seria a aventura dos sentidos, através do olhar magoado das mulheres e da sua luta pela existência, num mundo em que as descendentes de Eva eram consideradas pelos homens como mercadoria e inferiores aos animais, conceito que perdurará ainda hoje, perpetuado por determinadas interpretações fundamentalistas dos livros ditos sagrados, em nome de uma verdade religiosa que nenhum Deus, bom e justo, poderia alguma vez sancionar ou sequer tolerar.
Embora sejam personagens masculinos a surgir nos títulos de todos os contos, são as figuras femininas, com a sua força, subterrânea mas poderosa, quem verdadeiramente vai tecendo a trama dos dias.
Sarai e Judite, Agar e Rute lutam à sua maneira e, numa sociedade em que tudo lhes é negado e onde ocupam o lugar mais humilde, conseguem afirmar-se pela coragem, pela determinação, pelos ardis e pelo jogo sensual delicadamente construído pela autora.
Estes Contos do Velho Testamento sacodem energicamente o pó de uma escrita intocada e trazem-nos para mais perto os personagens, na sua estatura bravia e rude, com os defeitos e qualidades de todos nós...