Empenhado em dar voz a uma galeria de “compositores-trabalhadores” cuja obra se constrói a partir das suas experiências de classe, Marcos Raddi acertou em cheio na escolha do(s) protagonista(s) deste estudo. Evocando o Trio Calafrio, composto por Barbeirinho do Jacarezinho, Luiz Grande e Marquinhos Diniz, o pesquisador inscreveu no universo acadêmico três sambistas que sempre gozaram de enorme prestígio entre seus pares, compondo sambas memoráveis, como “Caviar” e “Jeton”, gravados pelo grupo e por bambas do naipe de Bezerra da Silva e Zeca Pagodinho. No país de Chico Buarque, Caetano, Gil e Gonzaguinha, os três são associados pelo autor a uma galeria que se abre com Noel Rosa e segue com Wilson Baptista, Geraldo Pereira, Nelson Sargento, D. Ivone Lara, Zé Kéti, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, João Nogueira & Paulo César Pinheiro, além de Leci Brandão, Aluísio Machado, Beto Sem Braço& Cia. Assim, ele nos adverte que a Academia precisa “ouvir as vozes” dos(as) poetas populares, sobretudo os(as) oriundos da classe trabalhadora. Uma tarefa ainda mais relevante nestes obscuros tempos neoliberais e irracionais de ataques à ciência, à educação e ao conhecimento (em especial os saberes fundados sob uma perspectiva crítica, de transformação social). Se não bastasse, Marcos retoma ainda o velho mote da música como um elemento definidor da identidade nacional, sem ignorar o muro erguido entre a cultura letrada e a oral pela burguesia de Bruzundanga, que despreza a oralidade musicada, elemento decisivo para a formação da difusa e fraturada cultura nacional. Nada, porém, embota o brilho da sua categoria dos “compositores críticos”, que povoam todos os gêneros musicais populares e se afirmam como cronistas agudos das contradições e injustiças do cotidiano – sempre por meio de um diálogo franco e direto com a realidade dos(as) ouvintes. Axé, Raddi! - Prof. Dr. Luiz Ricardo Leitão (Supervisor editorial do Acervo do Samba UERJ)
Marca: LUTAS ANTICAPITAL