Chute, esse formidável livro de Maria Ignez Barbosa, surpreende pela multiplicidade de tempos e dinâmicas que apresenta. Do “tempo que não mais flui”, vivido durante a pandemia, ao tempo de múltiplos fluxos da arte, que pode sincronizar Vermeer e Nan Goldin, De Chirico e Rachel Whiteread, Van Der Weide e Andres Serrano. O aspecto memorialístico, espalhado um pouco ao longo do livro mas com alguma concentração na sessão “Entretantos”, valeria também uma análise detida que o espaço exíguo de uma apresentação não permite. Mas diga-se que muito da delícia do livro vem dos encontros, mais ou menos circunstanciais, com gente como Charlotte Rampling, Murilo Mendes, um indiscreto pintor surrealista espanhol e Guimarães Rosa. Mas é até bom deixar para o leitor o prazer e a surpresa de tantas descobertas possíveis nesse realmente precioso livro.