Cemitério de elefantes , publicado originalmente em 1964, é o livro que consolidou Dalton Trevisan como um dos maiores escritores do Brasil. Depois de uma calorosa recepção na estreia, com o livro Novelas nada exemplares , de 1959, crítica e leitores se renderam de vez aos contos minimalistas e ao olhar atento do escritor curitibano. Não por acaso, pois alguns dos melhores momentos do autor estão neste livro. É o caso de Uma vela para Dario , que virou um clássico do repertório daltoniano, ao escancarar a crueldade do ser humano em uma situação-limite.
A derrocada do homem, rural e urbano, é retratada em contos poderosíssimos, nos quais Trevisan destila os temas que o consagraram: traição ( A margem do rio ), ciúme ( Caso de desquite ), abuso ( Questão de família ), violência doméstica ( Ao nascer do dia ), patriarcado ( O primo ), prostituição ( Dinorá, moça do prazer ) e ainda todo tipo de sentimento que costuma alimentar a guerra conjugal , como tão bem definiu o próprio autor em outro livro célebre. Há ainda, claro, os bêbados da beira do rio, no conto-título, um retrato impiedoso das chagas da metrópole.
Mas esses contos seriam apenas histórias comuns, ouvidas atrás da porta , não fosse a genial linguagem criada e lapidada à exaustão pelo autor quando as elipses falam mais do que páginas e páginas de enredo.
Assim, Cemitério de elefantes se tornou um capítulo importante do imenso romance sobre a vida privada que Dalton Trevisan vem escrevendo há décadas e que cravou definitivamente seu nome entre os maiores autores de nossa literatura. Para o escritor e roteirista Marçal Aquino, que assina o texto de quarta capa desta mais nova edição: Cemitério de elefantes é a pedra fundamental do monumento literário que Dalton Trevisan construiu nos últimos sessenta anos.
Descobri a obra de Dalton em meados dos anos 1970, quando foi publicada na Argentina a tradução de O vampiro de Curitiba . Pouco depois, comecei a viajar ao Brasil, e a comprar seus livros, todos os que encontrava. ... Se me perguntam qual o meu favorito, poderia mencionar Pão e sangue , no qual seu minimalismo sanguinário foi sublimado. Gosto, porém, de tudo o que ele escreveu, sua velocidade, sua prosa nonsense , antídoto contra tanto barroquismo inútil, sua desconfiança em relação ao matrimônio e seu amor à humanidade. César Aira