A Geografia brasileira, de um modo geral, sofreu fortes influências das discussões acerca do conceito de espaço trazidas, principalmente, pelo geógrafo Milton Santos, quando do seu retorno do exílio para o Brasil. É certo, obviamente, que os anos 1970 e 1980 traduziram muito das tensões acadêmicas e políticas experimentadas pelo país, algo que explica em grande parte o frisson gerado pelas ideias miltonianas. De um lado, a então denominada Geografia Quantitativa ganhava terreno e alçava modelos e sistemas a um patamar de importância que repartia atenção com os adeptos de uma Geografia considerada tradicional, derivada de uma Escola Francesa, muito descritiva e fadada ao insucesso pela manutenção de uma falsa dicotomia entre as vertentes ditas física e humana. Soa óbvio que não se pode reduzir as transformações daquele momento ao que exatamente é exposto no parágrafo anterior. Porém, o raciocínio permite, grosso modo, compreender o quanto o conceito de espaço ganhara força: de um lado, base de entendimento de uma Geografia também conhecida por Pragmática, Teorética ou até mesmo Nova Geografia; e por outro, a incidência de uma nova proposta de enfrentamento das grandes questões de um mundo à beira dos estertores do século XX e na qual o mesmo conceito de espaço possibilitava a expressão de uma nova e vigorosa vertente, a Geografia Radical ou Crítica. O conceito de paisagem muito marcado na obra de Milton Santos a algo equivalente ao substrato no qual se davam as interações socioespaciais aqui e ali aos poucos ressurgirá, mesmo que, por vezes, transmutado em novas compreensões humanísticas ou associadas à retomada da Geografia Cultural. Compreende-se, igualmente, que o momento político retratado no Brasil de então, entre outras situações, gerou um hiato, entre aquilo que a Geografia experimentava como mudança em países hegemônicos e o que se apresentava no Brasil em igual período. Não obstante, essa nova marca dada à Geografia brasileira após a abertura política do país vai marcá-la de modo indelével e por muito tempo. (...)