Aos papais e mamães

Aos papais e mamães trata da trajetória de Maria Marta, uma mulher pacata e introvertida, convertida a uma vida isolada graças a abusos psicológicos sofridos quando criança. Nesta trama, ela se vê pressionada e ameaçada por seus vizinhos e, sem perder seu jeito ingênuo e assustado, transforma-se em uma sequestradora e assassina, uma predadora, como ela mesma se define. O texto explora o poder das influências não visíveis na vida da personagem e contém diversos easter eggs com referências religiosas que ajudam a encorpar o caldo de suas experiências. Ouviu a campainha, levantou logo para que o barulho não acordasse o corpo que dormia reto na cama, apressou-se até a porta e a abriu com firmeza, querendo entender quem estava disposto a incomodar àquela hora. Que seja alguma coisa importante, pensou. A história de Maria Marta me veio em uma noite tranquila, dormindo ao lado da minha esposa. Um som, dos mais comuns, me despertou e congelou meu coração. Não me mexi, mas também não pude mais dormir. Agarrei-me à certeza de que esse som vinha da minha cabeça, dos meus sonhos, dos cachorros pela casa, como fazemos todos quando a única saída é esperar. Mas em nenhum momento daquela noite consegui limpar aquele pensamento do e se. E se fosse real? E se meus medos fossem justificados? E se aquele suor gelado fosse o último da minha existência? Assim nasceu Maria Marta. Do mesmo medo que eu, do mesmo frio ulceroso, da ansiedade no escuro, do medo de morrer. Ela sofreu para ficar de joelhos, mas alcançou o trinco, voltou a deitar-se atrás da porta, com as costas protegendo qualquer tentativa de abertura ou arrombamento, fazendo força para que seus braços segurassem seu corpo numa posição quase fetal. De olhos fechados, ela só conseguia pensar no que poderia estar acontecendo atrás daquela porta. Sobre o autor: BENJAMIN FLORES é pseudônimo de um engenheiro por formação, autor por paixão, Andreense e corinthiano. Cedeu à escrita aos 30 anos e suas obras vagam por mundos obscuros
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