Angústia é considerada uma das obras mais intensas e desafiadoras de  Graciliano Ramos. Narrado em primeira pessoa, o romance mergulha no  universo psicológico do funcionário público Luís da Silva, conduzindo o leitor por  um fluxo de consciência denso e inquieto. A narrativa ziguezagueia entre  passado e presente, explorando memórias de infância e a realidade opressiva  da vida urbana, compondo um retrato vívido da solidão e do colapso subjetivo.  Retrato de um homem em queda, a história acompanha um funcionário público  pobre, esmagado por obsessões e pelas exigências do mundo burguês que o  despreza. “Não sou um rato, não quero ser um rato”, diz ele, enquanto se cola  às paredes e tenta escapar dos homens ruidosos, das dívidas impagáveis e da  lembrança sufocante de Marina.  Publicado originalmente em 1936, num momento de profunda tensão política –  Graciliano seria preso pouco antes do lançamento do livro sob suspeita de  envolvimento com a Intentona Comunista –, Angústia é também uma alegoria  da repressão e do colapso social. Como em outros momentos de seu trabalho,  Graciliano rejeita explicações fáceis ou maniqueísmos. Em vez de heróis ou  vilões, há homens atravessados pela dúvida, pela vergonha, pelo rancor e pela  impotência. "Essas sombras se arrastam com lentidão viscosa", escreve ele,  "misturando-se, formando um novelo confuso."  A obra ganha agora nova edição pela Global Editora, com projeto gráfico  singular, estudo crítico assinado por Carolina Duarte Damasceno, professora  de Literatura na Universidade Federal de Uberlândia, e um caderno de imagens  que recupera manuscritos do próprio autor. Trata-se não apenas de uma  reedição, mas de uma reentrada cuidadosa em um dos espaços mais densos e  desafiadores da literatura brasileira.  Este é o quinto título de Graciliano publicado pela Global, após Vidas secas, S.  Bernardo, A terra dos meninos pelados e Memórias do Cárcere. Também é o  terceiro a integrar a coleção que ostenta em sua capa a arte de J. Borges, ícone  da xilogravura nordestina, que neste volume assina Coração na mão. A imagem  dialoga com a essência do livro: o coração nu, exposto, entregue ao desespero  e à lucidez que marcam a jornada de Luís da Silva, o narrador-protagonista. 
 Marca: Não Informado