Que estranha força leva as pessoas a empreenderem a luta diária, deixando para trás o cansaço e as frustrações para enfrentarem novamente mais desafios e obstáculos na conquista de outro diaEsse tipo de questão requer uma reflexão séria e árdua, longe desta sociedade em que a privacidade cotidiana do homem se transformou em reality show colocado à venda, como assim o quer o sistema capitalista, igual a um mico de circo, fadado ao entretenimento de outros micos.A vivência e a invenção na palavra literária enfoca a vida diária e a elevação do valor existencial da casa e do cotidiano como o espaço revelador da vida autêntica do homem contemporâneo que - aprisionado e embriagado por valores superficiais que nada contribuem para uma vida bem vivida e plena de significados - foi desviado de seus sonhos e despojado de sua verdadeira identidade na grelha da globalização, vendo-se reduzido a mero espectador da existência que lhe foi proposta. Nesse sentido, Cleide Papes, com um sopro de lucidez, nos convida na leitura de seu texto a resgatar a dignidade da nossa condição humana, recuperar a coragem de enfrentar o status quo e reassumir o controle de nossas vidas, porque, segundo ela, Heróis são estes homens que perdem rostos e nomes no meio de uma multidão móvel e contínua, reiterando sua ação de reagir às adversidades e de modificar o meio em que vivem. Nem deuses, nem mágicos, são gente comum, num fazer constante, desde tempos remotos, construindo a sua história. E, se não há holofotes no nosso palco, não quer dizer que estamos formatados para uma vida insípida e sem espantos, porque ninguém escreverá a história que devemos viver. E de nada serve esperarmos por varinhas de condão que não vêm fazer aquilo que nós não fizermos, porque, conforme a autora, O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente.Como superar os desafios do poder inebriante e reagir diante de modelos desgastadosCleide Papes, em seu livro, aponta as profundas ligações entre a literatura e a vida, o mundo dos homens e a arte, na vivência e na invenção, ambas destacando o ser humano como a obra máxima da Criação, na qual coexistem os personagens, o ser social, o indivíduo comum e o escritor. A palavra literária tem força!