A serenidade do zero

Trazendo a simplicidade misteriosa e ancestral da nulidade, Alexandra Vieira de Almeida dedica sua obra - repleta de seriedade no dizer das batalhas internas do homem - ao mais antigo, milenar e enigmático, que existe na essência divina. A autora que em seus versos, diz do seu entendimento sobre as angústias humanas - sobre as diversas sinas de confusões do ser, que precisa e tenta categorizar o bem e o mal, o certo e o errado também se afina com o conhecimento de caráter oriental, que reconhece a urgência do esvaziamento da mente. Como a temática supõe, A Serenidade Do Zero é aprendida aos poucos, com árdua luta, em meio ao delirante do mundo, que joga pesos, fardos e desafios nas mentes levadas a efusão, nas horas de pico das madrugadas, sendo que para encontrar algo de inteligível no pesado cotidiano, o homem recolhe-se a solidão das noites, O homem-ser de pano / se extravasa de dores / Saem os suores do corpo / Os temores da sombra / se amotinam na cama. Impossível, no entanto, deixar de dedicar uma reverência ao belo poema Máscaras, a despeito da linguagem lírica, com formas, palavras e sentidos casados num arco de cores de letras, a autora trabalha a temática do revelar do interno, em meio as máscaras, neste contexto, utilizadas na folia do Carnaval. No olhar de Alexandra, os homens revelam-se à medida de sua falta de inibição, fazendo do êxtase da felicidade das festas, apenas ocasião de pretexto para um mostrar muito mais denso: o soltar da alma, presa nas formas do corpo. O conjunto de poemas de Alexandra cumprem um importante papel de possibilitar ao leitor uma identificação e absorção tão grande com o magnetismo de suas palavras, que por instantes, a nulidade do zero, é obtida na pausa da contemplação de sua poesia.