Um jovem cavalheiro é convidado para a velha casa de um amigo de infância, Roderick Usher. À mansão parece concebida como cenário de um conto gótico, com a paisagem lúgubre que a rodeia, dois irmãos gémeos, o próprio Roderick e Lady Madeline, e doenças misteriosas que fazem parte da história familiar e que se manifestam em sensações sobrenaturais. Todos os elementos do género parecem estar reunidos, e, no entanto, o suspense, o terror desta história deve-se à incerteza, pois não sabemos exactamente em que parte do mundo se situa e em que tempo decorre. Há também um lago perto do solar dos Usher, mas suspeitamos que está lá apenas para compor um final fatídico. O conto foi publicado pela primeira vez na Burton’s Gentleman’s Magazine. Tornou-se uma das obras de Poe preferidas da crítica e a que o próprio autor considerava a mais conseguida das que escreveu. Esta edição reúne outros contos de Edgar Allan Poe, como Manuscrito Encontrado numa Garrafa, Ligeia, Uma Descida no Maelström e O Gato Preto. As personagens de Poe, ou melhor, a personagem de Poe, homem de faculdades supra-agudas, de nervos distendidos, cuja vontade ardente e paciente lança um desafio às dificuldades, de olhar tenso com a rigidez de uma espada, que contempla objectos que engrandecem à medida que olha para eles — é o próprio Poe. E as suas mulheres, todas luminosas e doentes, finando de males estranhos e falando com uma voz que se assemelha à música, é sempre ele; ou, pelo menos, pelas suas estranhas aspirações, pelo seu saber, pela sua melancolia incurável, elas participam fortemente da natureza do seu criador. Do Prefácio de Charles Baudelaire