No contexto espiritual do início do século XVI, os Exercícios espirituais de Inácio de Loyola não são figura isolada. Remontando às fontes, o autor mostra sua originalidade. Nesse domínio, os pesquisadores jesuítas confrontaram adequadamente esta obra inaciana com as nascidas da devotio moderna, como o Exercitatorio de la vida espiritual de Cisneros, publicado em 1500, referindo-se inclusive à Vida de Cristo, de Ludolfo da Saxônia, e à Legenda áurea, de Tiago de Voragine, que Inácio leu em seu leito de convalescente em Loyola. Mas o autor alarga sua pesquisa aludindo à fonte escriturística que inspirou o sentido tropológico e místico da Escritura, sem negligenciar a contribuição das teologias medievais de Tomás de Aquino e de Boaventura. Ademais, inferiu a hermenêutica própria da evolução dos Exercícios inacianos, levando em consideração o conflito iniciado numa época em que a liberdade do livre-arbítrio (Erasmo) foi contestada pelo servo arbítrio (Lutero). De acordo com a imensa tradição cristã, aparece cada vez mais claramente que os Exercícios inacianos foram construídos sobre o duplo evento do envio pelo Pai do Verbo feito carne e do envio do Espírito Santo pelo Pai e pelo Filho. Entretanto, os Exercícios inacianos radicalizam a distinção e a complementariedade desse duplo envio. Como sublinha Mark Rotsaert no Prefácio, existe uma lógica espiritual nos Exercícios que, quando respeitada até o fim como o faz o autor , evita fazer deles um sistema fechado, seja teológico, seja filosófico.