A Lógica da Minha Saudade

Dina Mangabeira era uma mulher sábia. Iniciativa era o seu norte, pois, quando não podia ela mesma resolver uma questão, buscava em outro a solução. Sob suas asas, nós, filhos explicitamente amados, fomos ensinados a ter orgulho de nós mesmos, da família e das nossas decisões. Do nosso valor, em suma. Ela era totalmente parcial: em primeiro lugar, os filhos. Depois, vamos ver. Dessa parcialidade se beneficiavam todos aqueles que se tornavam próximos. E foi nesse traço de seu caráter que percebi que aquilo não era parcialidade, porém a demonstração explícita de sua enorme generosidade. Era atenta. O contato generoso com tudo que acontecia à sua volta permitiu a ela ter uma visão amplificada do tempo em que viveu, ao manifestar em prosa e verso a essência da vida. E, por fim, o inevitável contato com o universo literário teve o condão de abrir as portas de sua alma para captar o sentimento do mundo. Assim, foi aquela sabedoria e este sentimento, traduzido no que escreveu, que outorga aqui a todos nós o registro do seu mais singular testamento. Obrigado, mamãe.