Hospedar-se de graça ao redor do mundo na casa de gente disposta a fazer amizade. Utopia? Sandice? A verdade é que o couchsurfing tinha muitos adeptos antes da pandemia e o narrador deste livro - a estreia de Fernando Baldan na literatura -, um antigo surfista de sofá, fica imaginando se voltaria a participar da rede de viajantes. Enquanto tenta reativar sua conta, lembra sua experiência como “surfer”, um período de cerca de dez anos. No começo, o que parecia ser uma fuga com os hippies se torna uma via crucis que inclui desentendimentos, conversas com estátuas e busca por aceitação. A rede estava saturada e descolar um sofá não era tão fácil quanto parecia. Apesar de tudo, o protagonista faz bons amigos, entre eles, a “rainha do couchsurfing” em Portugal. E se anfitriões parecem escassos, parceiros de hostel surgem com o verdadeiro espírito da comunidade. Na onda dos surfistas de sofá, ele conhece o mar “verderranho” de Dublin, a praia herbal de Pocitos, no Uruguai, pedala na chuva em Paris, arruma um guia em Milão, conhece duas Londres, participa do primeiro piquenique da avenida Paulista, tem uma epifania no Primavera Sound em Barcelona. Se o passado traz boas recordações e outras nem tanto, o presente tem o dilema de fazê-lo voltar a se relacionar com desconhecidos numa época de outra pandemia, a do extremismo. Romance biográfico sobre amizade e viagem, Procura-se um sofá é também sobre cultura pop. Ver um show por aí, uma das obsessões do narrador, vira pretexto para conhecer gente, descolar couch e reencontrar-se.
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